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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Não digas a Deus que tens um problema, mas ao problema que tens um Grande Deus





Bom dia. Paz e Bem. Ontem estive no hospital praticamente 14 horas. Por isso não tive tempo para partilhar seja o que for, a não ser cair na cama, e dar graças a Deus pelo poder e a graça regeneradora do sono.

Gostaria de falar da fé. É verdade que é um dom, e bem aventurado o "ser" capaz de olhar para a vida com olhos de fé. No entanto não olho para esse tesouro na perspectiva do obscurantismo, mas do razoável. Acredito nos milagres, mesmo sendo um homem que procura sempre uma explicação razoável. Nenhum diagnostico é definitivo. Há sempre uma hipótese, observação e verificação, abrindo a porta para uma outra hipótese e assim sucessivamente. Surpreende-me sempre o poder regenerador da ciência. Na natureza nada se perde tudo se transforma. É uma lei que não põe, de modo algum,  de parte ou anula a presença de um ser que eu chamo de Deus. Por isso nunca deixo de pedir milagres, mesmo sabendo que a percentagem é mínima ou quase nula. O poder da confiança, do amor, da escuta são uma bênção.

Durante dois anos tive o privilégio ou a graça de trabalhar num hospital psiquiátrico. Aí descobri que as vezes é o mundo que anda louco. Perdemos o poder de sonhar devido à rotina. Já não queremos ser nada, porque achamos que já somos tudo. Nessa comunidade de quase 750 utentes descobri gente maravilhosa que me ensinou que afinal às vezes sou eu que ando louco. Todos os Sábados e Domingos dirigia-me a capela para rezar e procurar um pouco de silêncio interior. À entrada encontrava  muitas vezes um jovem que me pedia sempre uma bênção. Dizia que tinha algo que o perturbava muito. Um dia num momento de oração comunitária com alguns recém licenciados, esse jovem apareceu. Olhei para ele e não hesitei em chama-lo. Publicamente dei-lhe um grande abraço e disse-lhe: "quero que recebas esta bênção, e que saibas que te admiramos e gostamos muito de ti. A nossa comunidade estaria muito mais pobre sem o teu sorriso. Senta-te aqui connosco". Pois esse foi o dia em que o jovem se sentiu realmente abençoado. Nunca mais me falou das suas perturbações.

Acredito que muitas vezes quando rezamos, não sabemos pedir. Achamos que Deus tem que fazer ou cumprir a nossa missão. Queremos um trabalho, sucesso, saúde, felicidade, etc. Pedimos a Deus. Depois ficamos tristes porque parece que nada acontece. No entanto se pedirmos com confiança ou fé, força para ir à luta, para levantar a cabeça, então sim muita coisa pode acontecer.

Quando um diagnostico é muito mau, grave. Podemos calcular à luz da experiência e do conhecimento um tempo de vida. Mas quem sou eu para dizer que há exactidão ou certeza nesse prazo. Digo sempre aos meus doentes que nos não somos deuses e há sempre a hipótese de uma falha. Mesmo sendo verdade, recomendo sempre que apesar do medo e da incerteza que vivam com muita intensidade cada dia. Pois o fim pertence sempre ao ontem. Corre-se o risco de morrer mesmo estando vivo. Nunca digo a Deus que tenho um problema mas ao problema que tenho um grande Deus.

Até breve

CM

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