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sábado, 1 de setembro de 2012

O DIA DISSE-ME


O dia disse-me


Aqui há tempos convidaram-me para participar numa mesa redonda cujo o tema era a sustentabilidade. Coube-me falar sobre a espiritualidade no contexto desse tema. Obviamente que não sou nenhum perito nessa matéria embora a ache importante. Não passo de um frade que trabalha num hospital. Apesar de toda a terapêutica, acho que a minha capacidade de escuta contribui para a possibilidade de varias espiritualidades no domínio da sustentabilidade. Desde a psiquiatria ao cuidado paliativo muitas vezes aquilo que atormenta o doente é o facto de quem o recebe não o querer escutar. Trata-se a doença, e as vezes esquece-se que se trata de um doente. No campo da psiquiatria recebo muita gente com quadro de depressão. É verdade que é uma doença, mas nunca devemos esquecer que se trata sobretudo de alguém com uma tristeza crónica. Curar é difícil, no entanto aprender a lidar com a situação é possível. Pelo facto de escutar e não desvalorizar o tema, já transforma a situação de tristeza numa casa fechada mas com janelas abertas. Começa a surgir luz. A pessoa não tem uma depressão, esta deprimida. Isto parece igual mas é bem diferente. Trata-se de tomar consciência da realidade pessoal, e descobrir que mesmo sendo assim posso viver e quero viver. Começo a olhar para mim, porque é isso que faz falta. Andamos tão preocupados com os outros, sobre aquilo que acham de nós, que deixamos de ouvir e até escutar aquilo que eu acho de mim. Eu tenho um problema mas não sou esse problema.

A sustentabilidade passa por isso. Tomar consciência que não preciso de gastar aquilo que é de todos, porque eu próprio sou um mundo. Na mensagem anterior coloquei uma adivinha. Há dois dias na vida de todos nós mesmo que quiséssemos não poderíamos fazer nada. Pois esses dias são o dia de ontem e o dia de amanhã . Veja quanto tempo gasta com o dia de ontem, com o amanhã e o que fica para o hoje. Quase nada. Pois isso não é viver mas sobreviver.

Até breve


CM

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